Regina Célia de SouzaNeste sentido, sua contribuição pode apontar algumas direções:
(...) sou a favor dos psicólogos práticos, a favor do trabalho prático e, portanto, em sentido amplo, a favor da ousadia e do aprofundamento de nosso ramo da ciência na própria vida.(Vygotsky,1968)
O que consiste este trabalho prático do psicólogo na educação?
Num primeiro momento, relacionar os conhecimentos específicos da Psicologia com os conhecimentos educativos. Para isso é necessário conhecer os temas da educação e o funcionamento da escola enquanto instituição característica para que estes conhecimentos possam ser articulados.
Cabe ressaltar que o trabalho prático, a que se refere Vygotsky, não é um trabalho afastado da teoria, nem uma superposição do campo psicológico sobre o educacional, e sim um trabalho de reflexão da prática a partir da teoria.
Assim, apoiado em seus pressupostos teóricos e estes, por sua vez, já articulado ao conhecimento educativo, a grande contribuição do psicólogo escolar reside nos bastidores da instituição, isto é, sua ação deve desenvolver-se prioritariamente com os professores e não com os alunos, contribuindo para que eles estejam cada vez mais fortalecidos e instrumentalizados para uma atuação de qualidade junto ao alunado.
Hoje não temos dúvidas de que o trabalho mais importante que um psicólogo possa desenvolver nas instituições de educação é a formação em serviço de seus educadores.
Ajudar o educador a refletir sobre sua infância, para melhor compreender a infância de seus alunos;
Contribuir para que o educador infantil possa rever sua identidade enquanto profissional, encontrando um sentido cada mais significativo par seu fazer pedagógico;
Auxiliar o educador no convívio das relações grupais; - nas relações de equipe e na construção da turma enquanto grupo;
Ajudar o educador a refletir sobre sua família para melhor compreender a dinâmica familiar de seus alunos e novo perfil familiar ;
Ajudar o educador a refletir e conhecer sobre o desenvolvimento humano e os processos ensino/aprendizagem com base nos fundamentos teóricos que sustentam sua prática, possibilitando que ele possa compreender e encaminhar, com clareza, o percurso de escolarização de seus alunos evitando os excessivos encaminhamentos a sessões psicopedagógicas.
Além disso, não se deve perder de vista algumas questões éticas e políticas:
É preciso que o psicólogo compreenda que no cenário escolar, da mesma forma que outros técnicos presentes na escola, ele não é o protagonista da cena. Seu trabalho é nos bastidores, buscando promover o educador em suas necessidades de reflexão e de construção de conhecimento. Para isso é fundamental que tenha uma visão integrada desse educador-sujeito, pois seu trabalho é ajudá-lo a se descobrir, a se desvelar, alcançando segurança, autonomia na sala de aula. E isso só é possível através do respeito – respeito por um conhecimento que o professor construiu referente ao cotidiano da sala de aula e que é o objetivo primeiro da escola; e respeito pela pessoa do educador, não lhe lançando interpretações que não está preparado para ouvir – a escola não espaço para clínica psicológica.
Mas, além disso o que pode fazer o psicólogo escolar?
Pode: desenvolver trabalhos de Orientação Vocacional e Profissional com os alunos;
desenvolver ações preventivas junto com o corpo docente no que se refere à uso de drogas
desenvolver ações esclarecedoras junto com o corpo docente para os alunos sobre sexualidade, ética, agressividade...
desenvolver ações esclarecedoras junto com o corpo docente para as famílias sobe desenvolvimento humano, prevenção do uso de drogas, sexualidade, agressividade, ética...
desenvolver ações esclarecedoras junto com o corpo docente para as famílias sobre o desenvolvimento acadêmico dos alunos;
desenvolver ações esclarecedoras junto com o corpo docente para famílias e alunos sobre a metodologia e os objetivos da escola;
participar com toda equipe da escola da construção de seu projeto político pedagógico;
desenvolver trabalho de relações grupais para que a equipe da escola possa cada dia melhorar suas relações interpessoais.
* artigo adaptado do texto: “O psicólogo e a educação – uma relação possível” publicado no livro “A práxis na formação de educadores infantis” da mesma autora. Ed. DP&A. 2002. RJ.
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